MEMÓRIAS DA BOSSOROCA - 1967
O antigo jornal "Diário de Noticias", em sua edição de 22/03/1967, através do correspondente Edmar José Dutra, traz uma matéria que trata da instalação do município de Bossoroca, que ocorreu no dia 04 de março de 1967. Um registro importante para a história da Buena Terra Missioneira. Este documento nos foi enviado por Jonas Sanabria.
DODONHO
SOCIEDADE ESPORTIVA 7 DE SETEMBRO
CERRO DA BELA VISTA
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Esta
foto foi tirada em São Luiz Gonzaga, no dia 3 de janeiro de 1957. Neste dia a
Sociedade Esportiva 7 de Setembro, de Bossoroca, jogava contra o Esporte Clube
São Luiz, sendo derrotada por 6 a 5. Na
imagem, algumas pessoas conhecidas e outras que provavelmente, pertenciam à
famílias de ferroviários que aqui moravam. É
possível identificar as seguintes pessoas: Posicionados em pé, da esquerda para
a direita: o 4º integrante era Paulo Fagundes, que foi funcionário público da
Prefeitura Municipal de Bossoroca. Nesta
mesma ordem, o último integrante é o Sr. Lodonho Nascimento Pereira,
agropecuarista que atualmente, reside em Bossoroca. Agachados, também da
esquerda para a direita, o 1º integrante é Nezinho, que por muito tempo exerceu
a atividade comercial em um estabelecimento localizado nas proximidades do
trevo do Trator. A 3ª
pessoa na sequência é João Alfredo Dutra Vieira, a 4ª é Luiz Gastão Fabrício, ex
funcionário do antigo INPS e a 5ª é o Sr. João Pedro Fabrício de tradicional família
de Bossoroca.
A casa
onde nasceu o missioneiro Noel Guarany e onde viveu com seus pais, encontra-se
abandonada, praticamente em ruínas e gradativamente vai sendo tomada pelo
matagal.
Com esta situação, São Luiz Gonzaga vai perdendo uma importante referência cultural e turística, principalmente para os fãs de Noel Guarany.
Com esta situação, São Luiz Gonzaga vai perdendo uma importante referência cultural e turística, principalmente para os fãs de Noel Guarany.
Foi
nesta rua, antes chamada Uruguaiana, que Noel Fabrício da Silva deu os seus
primeiros passos, lá pelos idos de 1945/50.
Depois,
a Rua Uruguaiana teve seu nome alterado para Dinarte Vieira Marques no ano de
1972. Na realidade, poucas pessoas conhecem este local histórico, e este fato
nos leva a pensar que a memória de Noel vai lentamente se apagando na cidade
onde nasceu.
Afirma
Vinicius Ribeiro em seu blog, que “Bossoroca recebeu Noel de braços abertos, acreditando
e apoiando ele sempre!”. Este carinho recebido e consequentemente, a
valorização de seu trabalho fez com que ele se auto intitulasse “o cantor da
Bossoroca” e no final de sua existência, manifestasse o seu desejo de ser
sepultado na Buena Terra Missioneira.
Foi um
gesto de carinho pela mãe adotiva que o acolheu como se de suas próprias
entranhas ele tivesse saído e lhe permitiu ser o excepcional cantor e
guitarreiro que até hoje, é admirado e venerado por sua obra, sendo uma das poucas
referências quando se fala na musicalidade missioneira.
Na
terra que o acolheu, Noel ganhou um mausoléu, onde estão seus restos mortais. Um arrojado
projeto arquitetônico, que com sua simbologia, mostra os principais elementos
representativos da região missioneira e definem o estilo por ele adotado.
Ganhou também uma imponente estátua que saúda os que chegam na Buena Terra.
Dois exemplos de reconhecimento, admiração e da responsabilidade de preservação
do legado deixado pelo “Cantor da Bossoroca”.
CERRO DA BELA VISTA
Um dos lugares mais bonitos e aprazíveis da Buena Terra Missioneira está localizado no interior do município, conhecido como Cerro da bela vista. Segundo o atual morador, Marquito Moraes, o primeiro proprietário foi Antônio Brustoloni, um italiano que veio para esta região, nos idos de 1840, sendo a revolução farroupilha um dos motivos que o trouxe para cá, pois havia a eminente possibilidade de obter recursos financeiros. Quando aqui chegou Brustoloni precisou nivelar o cerro, ou seja, retirar terra e pedras para que tivesse condições de construir sua residência. Este trabalho, com certeza utilizou mão de obra escrava, pois era muito difícil, na época, encontrar pessoas que pudessem realizar esta atividade. Na execução deste nivelamento as pedras que foram retiradas, serviram para a construção de um galpão e das mangueiras existentes à época. A construção da sede iniciou aproximadamente, nos idos de 1885 e 1890. Em razão das dificuldades da época, os tijolos e telhas utilizadas na construção, foram produzidas próximo ao local. As telhas, que até hoje podem ser vistas, possuem um aspecto diferenciado, sendo únicas na região.
Resquícios deste galpão, como o alicerce, ainda existem. O mesmo foi utilizado com finalidade comercial e foi uma espécie de posto de abastecimento para tropeiros e carreteiros, que cruzavam pela estrada real e ligava a localidade de Garruchos, na fronteira com a Argentina, com Boqueirão de La Sierra, hoje Santiago do Boqueirão. O local transformou-se em um dos mais importantes pontos comerciais da região e uma referência para os andantes. Constituía-se no último pouso antes de chegar à vila de Bossoroca, onde a tropa era conduzida até o Mangueirão, situado no espaço que hoje encontra-se a estátua de Noel Guarany.
Por esta estrada, que passava nas imediações da propriedade, cruzaram as primeiras tropas, com destino à Pelotas, nas charqueadas da época, algumas contrabandeadas da Argentina e outras do Paraguai e que possivelmente, deram o início ao ciclo do tropeirismo nesta região, juntamente com os tropeiros de mulas, que levavam animais para Sorocaba. Muitos tropeiros utilizavam este local para pernoitar. Nesta época, Antônio Ferreira de Morais, conhecido como Tico Timbaúva, filho mais novo de Manoel Timbaúva, construiu o primeiro “Seguro de tropa” que era um espaço cercado e onde os animais permaneciam à noite, sendo uma alternativa para evitar o perigo de um estouro de tropa.
O Cerro da Bela vista, em razão de sua localização, foi considerado um ponto estratégico para observação da movimentação de tropas e pessoas, pois até hoje, permite que se visualize cidades como São Luiz Gonzaga, Santo Antônio das Missões, Itacurubi e Unistalda. Neste local, durante a noite ainda é possível observar as luzes da cidade de Roque Gonzales. É um dos pontos mais altos entre os rios Piratini e Icamaquã. No ano de 1940 o avô do atual morador, Antônio Ferreira de Moraes, adquiriu a propriedade de Antônio Caetano, também conhecido como Nico Caetano, que havia encontrado um enterro às margens de um lajeado próximo à propriedade e logo em seguida mudou-se para São Luiz Gonzaga.
Nesta época, já em 1945 o Cerro da Bela Vista também era um local onde as famílias da região, em grande parte constituídas por fazendeiros, periodicamente visitavam e divertiam-se nos grandes bailes que ali aconteciam. Eram festas que tinham duração de dois a três dias. Um dos assíduos frequentadores era Jayme Caetano Braun, que na época era namorado da jovem Cici, filha de Antônio Ferreira. Segundo relatos, aconteciam duas festas paralelas no local, uma no salão da fazenda e outra no galpão, onde ao som de uma gaita, a peonada também se divertia. O novo proprietário desmanchou o galpão e as mangueiras e as pedras que sobraram, foram doadas para o município de São Luiz Gonzaga e utilizadas nas estradas da região, as quais encontravam-se em péssimo estado.
A partir de então, abandonou-se a característica comercial e o local passou a ser um reduto político, sendo ponto de encontro para reuniões e comícios em épocas de campanha. E foi em reuniões no Cerro da Bela Vista que começaram as tratativas pró emancipação de Bossoroca. João Cândido Dutra, que foi interventor federal e importante liderança política, possuía, próximo a este local, uma espécie de armazém o qual surgiu depois que se encerraram as atividades comerciais no Cerro da Bela Vista, no ano de 1940. Numa certa feita, quando Leonidas Ribas, candidato a deputado federal, esteve na propriedade, foram carneadas dez vacas para o churrasco, sendo um dos maiores comícios da história de Bossoroca. Em 1978 a viúva de Antônio Ferreira decidiu mudar para São Luiz Gonzaga. Acabava assim, um dos mais importantes redutos políticos do município. Em 1998, pelo falecimento de Valentina Ramos Ferreira, seu filho Albino Ferreira de Morais assume a propriedade. Acaba falecendo em 2005, quando então, se estabelece no lugar o atual morador, Marco Antônio de Moraes (Marquito Moraes). A velha morada ainda preserva a tradição de bem receber os visitantes, que hoje, em sua maioria, provém das cavalgadas que costumeiramente passam por lá. Nesses mais de 13 anos, o galpão ainda serve de abrigo para os cavaleiros, que vez por outra, acampam no Cerro da Bela Vista.
Fundado em 1º de março de 1940, o Centro Espírita Deus, Cristo, Amor e Caridade completa 78 anos de trabalho em prol da comunidade de Bossoroca. Foi a primeira instituição a prestar assistência religiosa espírita e social em nosso município, seguindo a nota evangélica que diz: “DANDO DE GRAÇA O QUE DE GRAÇA RECEBEMOS”. Muito deve a “casa espírita”, a esse incansável trabalhador que também soube desapegar-se dos bens terrenos em benefício do ideal sacrossanto de Cristo, que ainda tão jovem abraçara. JOÃO MARTINS DE BITTENCOURT era estimado por todos quantos o conheciam. Muitos, entre os diversos perseguidores de ontem, agora, com ele, desfraldam a bandeira da paz e do amor.
É neste núcleo de estudo, de fraternidade, de oração e de trabalho, praticado dentro dos princípios espíritas e nesta escola de formação moral, que se desenvolve, à luz da doutrina espírita, um trabalho a 78 anos. Neste posto de atendimento fraternal, as pessoas buscam o propósito de obter aprimoramento íntimo e a consolação pela pratica do Evangelho de Jesus. Como casa de Deus e com o esforço de muitos, as portas estão abertas à todos aqueles que procuram entender os objetivos espirituais, os quais são para sempre e vão além da nossa vida material.
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Uma rara imagem do Sr. João Martins de Bitencourt com netos e filhos, na frente do mesmo prédio que hoje ainda abriga o Centro Espírita Deus, Cristo, Amor e Caridade. |
O PRIMEIRO GRUPO ESCOLAR DO MUNICÍPIO
No ano de 1938 a comunidade do então 3º distrito de São Luiz Gonzaga, Bossoroca, mobilizou-se numa campanha para a construção de um prédio que tinha por finalidade, abrigar a escola do município, o qual foi criado no dia 28 de março de 1938, com a doação do terreno pela senhora Paulina Alves Pereira.
Com esse valor foi dado o início da construção, localizada nas esquinas da Rua João Gonçalves e João Fagundes. A conclusão ocorreu no início do ano de 1939 e teve como primeira denominação, Grupo Escolar Gaspar Silveira Martins que tinha sido deputado pelo Rio Grande do Sul e ministro de estado.
Os mais antigos contam que a relação dos nomes de pessoas que contribuíram para a construção desta escola, foi colocada dentro de uma garrafa e enterrada no alicerce do prédio. Outro fato importante é que os tijolos utilizados na construção, que teve no comando um senhor chamado Nortagiácomo, construtor na época, tiveram origem na olaria de Alfredo Aquino, uma das primeiras indústrias de Bossoroca. Este prédio contava com três salas de aula, uma sala destinada à secretaria e dois banheiros.
No ano de 1939, já que a vila não tinha um local adequado, as dependências da escola foram cedidas para a realização de um baile de casamento do Senhor Mário Alves Pereira.
Os primeiros mestres que contribuíram para o desenvolvimento intelectual dos moradores da Vila de Bossoroca, foram: Jadiviga Kuchask Camelo, Anita Dejanira Pinosk Pereira, primeira diretora e primeira professora, respectivamente. Odete Pereira da Silva, Zilda de Bem Ozório, Luzia felicidade Nunes de Miranda, Hermilda Alves Araújo, Suely Rosa Nascimento, Diná Fernandes Furtado e Haidee Gonçalves do Nascimento, que faleceu em 20 de julho de 1956 e, em 1958, por reconhecimento ao seu trabalho, a escola passou a chamar-se Grupo Escolar Profª Haidee nascimento. Neste prédio também funcionou a Prefeitura Municipal, a Escola Miguel Fernandes e a Brigada Militar. Atualmente, além de servir de sede para as atividades da Associação Cultural, o prédio abriga o Museu Municipal Paulina A. pereira, a Inspetoria Veterinária e um posto do Detran. Nas imagens abaixo, antigas fotos do local.
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Alguns alunos do grupo escolar, a frente do prédio |
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O antigo prédio e ao lado, a igreja católica. A BRIGADA MILITAR EM BOSSOROCA |
A Brigada Militar, com efetivo de cinco praças, instalou-se, na então Vila de Bossoroca, no mês de setembro de 1958, por determinação do Governador do estado e em atenção a solicitação da comunidade da vila, liderada pelo pelo vereador Joaquin Luiz Nascimento. Nesta foto, tirada no mesmo ano da instalação, estão os primeiros policiais militares que prestaram serviço na Vila de Bossoroca. Da esquerda para a direita: O comandante - 3º sargento Antônio Alves de Oliveira e os soldados Inocêncio Ermes Lopes, Isaque Carvalho do Amaral, Flávio Ianque e Constantino Borges do Canto.
No museu municipal, é possível verificar o original de uma carta de alforria, que foi dada à um escravo, no ano de 1812. Transcrevemos o texto, tal como foi redigido, sendo que algumas palavras estão ilegíveis: "O abaixo assinado dá de ora em diante liberdade a escrava MARIA ALEIXA que encontra-se matriculada com o número 85 na matrícula geral do município em 20 de maio de 1812 e cuja escrava liberta sem ônus ou obrigação alguma e para que gose da..........liberdade passa a presente para que todos.......assim o considero. São Luiz Gonzaga 4 de outubro de 1812. João Luiz do Nascimento".
CARTA DE ALFORRIA
No museu municipal, é possível verificar o original de uma carta de alforria, que foi dada à um escravo, no ano de 1812. Transcrevemos o texto, tal como foi redigido, sendo que algumas palavras estão ilegíveis: "O abaixo assinado dá de ora em diante liberdade a escrava MARIA ALEIXA que encontra-se matriculada com o número 85 na matrícula geral do município em 20 de maio de 1812 e cuja escrava liberta sem ônus ou obrigação alguma e para que gose da..........liberdade passa a presente para que todos.......assim o considero. São Luiz Gonzaga 4 de outubro de 1812. João Luiz do Nascimento".
ATA ORIGINAL DA INSTALAÇÃO DO MUNICÍPIO
TÍTULO DE ELEITOR DA ÉPOCA DO IMPÉRIO
O 13º titulo de leitor expedido quando o Brasil ainda estava na condição de Império, na Província de São Pedro - Rio Grande do Sul
NOSSA SENHORA DA CONCEIÇÃO – A SANTA DO SOBRADO
No rincão do mesmo nome, ao longe pode ser visto o imponente Sobrado, prédio erguido em data não conhecida e que possui mais de 150 anos, abrigando em seu interior, a imagem de uma santa - Nossa Senhora da Conceição, ou a Santa do Sobrado.
Entalhada em madeira de cedro, a imagem possui em torno de 80 cm de altura e tem características barrocas e está colocada na parte superior do sobrado. De acordo com algumas pessoas, a origem desta imagem provém de acervo da redução de São Miguel, mas como chegou naquele lugar, ninguém sabe, sendo que a mesma já existia quando João da Costa Furtado adquiriu esta propriedade e construiu o sobrado, possivelmente no ano de 1840.
Conta a história, que neste local já havia resquícios de uma morada muito antiga, possivelmente um posto jesuítico ou aldeamento indígena. No mesmo local ocorreu a construção de um galpão que depois foi chamado de senzala. No entanto, alguns diziam que era apenas um local para os escravos que fugiam de outras propriedades e ali encontravam abrigo, já que o proprietário não era escravagista, tratando os negros com certa dignidade.
Conforme relatos de pessoas mais antigas, a esposa do segundo proprietário cujo nome também era João da Costa Furtado, dona Iveta Ferreira Furtado, por um bom tempo escondeu a santinha, pois haviam boatos de que alguém procurava resgatar a imagem e devolvê-la ao pretenso local de origem. Segundo o relato de alguns moradores mais antigos, a construção inicial não era rebocada, pois naquele tempo não havia cimento pelas proximidades. Sua construção era de tijolos a vista o que emprestava uma aparência diferente aos padrões da época.
Roberto Furtado Duarte, bisneto do antigo proprietário, conta que certa feita chegou no sobrado, com a finalidade de visitá-lo, uma senhora de nome Eva, que foi antiga moradora daquela região. Dona Eva, já com mais de 90 anos, contou que antigamente as moças que moravam em propriedades próximas, realizavam visitas a nossa Senhora da Conceição, onde faziam promessas para engravidar, conseguir casamento, entre outras. Nessas visitas, no altar da santinha, colocavam fitas coloridas, deixavam véus, roupas de criança e outros objetos, além de acender velas para que Nossa Senhora da Conceição intercedesse e atendesse seus pedidos. Numa feita, após a visita de algumas moradoras, ocorreu um princípio de incêndio causado pelas velas acesas deixadas no altar. Nesse dia os homens estavam no campo e na casa, algumas mulheres, entre elas, a mãe de uma das escravas.
Quando perceberam o fogo, uma das mulheres foi ao campo chamar os homens e as demais permaneceram tentando apagar as chamas. O incêndio ocorreu na parte superior do sobrado, onde para chegar era necessário subir
Entalhada em madeira de cedro, a imagem possui em torno de 80 cm de altura e tem características barrocas e está colocada na parte superior do sobrado. De acordo com algumas pessoas, a origem desta imagem provém de acervo da redução de São Miguel, mas como chegou naquele lugar, ninguém sabe, sendo que a mesma já existia quando João da Costa Furtado adquiriu esta propriedade e construiu o sobrado, possivelmente no ano de 1840.
Conta a história, que neste local já havia resquícios de uma morada muito antiga, possivelmente um posto jesuítico ou aldeamento indígena. No mesmo local ocorreu a construção de um galpão que depois foi chamado de senzala. No entanto, alguns diziam que era apenas um local para os escravos que fugiam de outras propriedades e ali encontravam abrigo, já que o proprietário não era escravagista, tratando os negros com certa dignidade.
Conforme relatos de pessoas mais antigas, a esposa do segundo proprietário cujo nome também era João da Costa Furtado, dona Iveta Ferreira Furtado, por um bom tempo escondeu a santinha, pois haviam boatos de que alguém procurava resgatar a imagem e devolvê-la ao pretenso local de origem. Segundo o relato de alguns moradores mais antigos, a construção inicial não era rebocada, pois naquele tempo não havia cimento pelas proximidades. Sua construção era de tijolos a vista o que emprestava uma aparência diferente aos padrões da época.
Roberto Furtado Duarte, bisneto do antigo proprietário, conta que certa feita chegou no sobrado, com a finalidade de visitá-lo, uma senhora de nome Eva, que foi antiga moradora daquela região. Dona Eva, já com mais de 90 anos, contou que antigamente as moças que moravam em propriedades próximas, realizavam visitas a nossa Senhora da Conceição, onde faziam promessas para engravidar, conseguir casamento, entre outras. Nessas visitas, no altar da santinha, colocavam fitas coloridas, deixavam véus, roupas de criança e outros objetos, além de acender velas para que Nossa Senhora da Conceição intercedesse e atendesse seus pedidos. Numa feita, após a visita de algumas moradoras, ocorreu um princípio de incêndio causado pelas velas acesas deixadas no altar. Nesse dia os homens estavam no campo e na casa, algumas mulheres, entre elas, a mãe de uma das escravas.
Quando perceberam o fogo, uma das mulheres foi ao campo chamar os homens e as demais permaneceram tentando apagar as chamas. O incêndio ocorreu na parte superior do sobrado, onde para chegar era necessário subir
uma escada de madeira. A água foi retirada de um poço que ficava junto ao prédio. Quando os homens chegaram as chamas já estavam controladas. No entanto, o altar onde estava nossa Senhora da Conceição foi totalmente destruído e para espanto de todos, a imagem, que era de madeira, nada sofreu. Este fato gerou algumas especulações a respeito da santa e talvez por este motivo, a devoção aumentou, fazendo que mais pessoas passassem a visita-la. Durante algum tempo, devotos iniciaram um movimento para realizar uma romaria em homenagem a Nossa Senhora da Conceição. A última vez que isto aconteceu foi em 2003. Agora, algumas pessoas preparam-se para dar continuidade a este gesto de reconhecimento e fé. No dia 8, próximo, será realizada uma romaria para visitar Nossa Senhora da Conceição - a Santa do Sobrado. (05/12/2017).
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João da Costa Furtado (segundo proprietário) cercado pelos amigos Avelino Cardinal e João Luiz Nascimento |
Sra. Vera Duarte, esposa do atual proprietário |
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Sr. João da Costa Furtado (segundo proprietário) |
Momentos da missa realizada no Sobrado
OS ESCULTORES DA BOSSOROCA
Nosso município, nos primórdios, ja teve dois escultores, que tiveram uma expressiva atuação com sua arte e deixaram marcada sua presença na Buena Terra. Entre esses, destacamos o espanhol JOSÉ MUGARTEGUI, tambem chamado de Mugarte, que viveu nesta região nos anos de 1860 a 1885. Sua obra perpetuou-se no trabalho nos túmulos de Manoel Elias, no Rincão dos Antunes e de Jacinto Vieira de Borba, no cemitério da Igrejinha. Outro escultor famoso na época, era DOMINGOS RICARDO ITALIANO, que chegou em Bossoroca em 1858 e deixou seu trabalho registrado em túmulos e capelas, como também, na construção das taipas de pedras.
PARTEIRAS DE CAMPANHA
Profissional que assistia aos partos na maior parte das regiões do Rio Grande, principalmente nas mais remotas, onde a presença de médicos era nula. Conhecidas em praticamente todos os lugares do Brasil, principalmente no interior e locais onde o acesso a hospitais era mais precário, essas senhoras exerceram importante função, pois auxiliavam a todos e muitas vezes, sem nada ganhar, levadas apenas pela satisfação de ajudar seu semelhante e, sem sombra de dúvida, com a característica feminina de quem sabe das dificuldades e complicações do parto. Não tinham formação específica e geralmente transmitiam suas habilidades para as filhas. Em função de seu trabalho, atendendo a todos, surgiu o adágio popular que demonstra a popularidade das parteiras: “Mais conhecido que parteira de campanha”. Ou então, demonstrando que para elas, não havia tempo ruim nem hora para atender, outro adágio diz: “marido de parteira dorme do lado da parede”. Em nosso município, muitas delas fizeram história na arte de “aparar a cria” e tinham uma indescritível alegria e muito orgulho quando diziam: “aquele piá ou aquela guria veio ao mundo pelas minhas mãos”. Talvez fosse essa a maior recompensa para uma parteira de campanha. Das inúmeras mulheres que exerceram a profissão na Bossoroca, alguns nomes são lembrados: Castorina Sanabria Borges, Adelaide Sanabria, Estifania da Silva, Ecilda F. Dos Santos, Luiza Rodrigues Nascimento, Donata Almeida, Serafina Souza, Alice Vieira, Ursulina A. Souza, Porfiria Antunes e Benigna Silva. Elas, fizeram o que a escritora Marina Colassanti descreveu de forma poética e realista: “Quem, durante séculos, extraiu entre as pernas abertas das mulheres seu fruto? Não foram os médicos, foram as parteiras, mulheres ajudando mulheres em seu ofício de mulher..."JOSÉ BORGES DO CANTO
Em 1801, o desertor do Regimento Dragões do Rio Pardo, de Rio Pardo - RS., José Borges do Canto, juntou-se a outros quarenta homens e tomou posse de parte das Missões, até então, dominadas pelos Espanhóis. Entregou-as ao Governo Português, o qual, como recompensa, juntamente com seus homens, recebeu de presente o Rincão do Icamaquan, compreendido entre os rios Piratinin, Icamaquan e Uruguai. Dentre os mercenários que aqui permaneceram, cita-se o nome de Antonio Lopes Pacheco e Justo Ferreira de Moraes que receberam, cada um, em torno de cinquenta quadras de campo, localizadas onde hoje, é o Rincão da Timbaúva.
A MULHER MAIS VELHA DE BOSSOROCA
Integrante de tradicional família de Bossoroca, desde 1838, Florêncio Sanabria Flores entrou na província, incluído em uma facção farrapa já aos 14 anos de idade. Nascido na República do Uruguai em 1824, após o término da refrega, casou-se com Ana Meireles (Nicácia) nascida em 1820. A mãe de sua esposa Ana, Maria Aurora Nunes, nasceu na província de Entre-Rios, República Argentina, em 1783, falecendo em Bossoroca, no ano de 1902 com 119 anos de idade.
DOIS ESCRAVOS POR DOZE QUADRAS DE CAMPO
Na propriedade da família Ávila, que quando aqui chegaram localizaram-se às margens do arroio da divisa, hoje arroio Jaguatirica, nos anos de 1830/40, mais precisamente na casa de José Alexandre de Ávila, por volta de 1862/63, um homem aparentando em torno de 19 anos, chamado Valeriano Fabrício da Silva, deu ô de casa na referida morada. E assim o fez por diversas vezes, pois demonstrava interesse pela filha de José, Ana Maria. Quando chegava, seu cavalo era entregue a dois negrinhos escravos de nome Silvério e Miguel, que alem de dos cuidados com o animal, eram muito simpáticos e dedicados ao hóspede. Certa feita, Valeriano deu aos meninos escravos, algumas moedas de prata, patacões, que êles nunca tinham visto. Alegres com o presente, foram contar para a sinhazinha, a patroa, que logo imaginou que os mesmos tivessem roubado do visitante. Quando Valeriano lá voltou, foi indagado a respeito do caso e confirmou o presente. O Patrão então, disse que os negros não mereciam qualquer presente pois faziam sua obrigação e que levariam uma surra para não pegar dinheiro de ninguém. Valeriano não gostou do que foi dito e propôs comprar os escravos. O proprietário aceitou a proposta e perguntou o que o forasteiro pagaria. Valeriano propôs entregar o Rincão Feio, que também era chamado de Rincão do Pesqueiro Grande, cuja área era de, mais ou menos, 12 quadras de sesmarias. Negócio feito, o Patrão ficou com os campos e Valeriano com os negros mas, seu namoro terminou.
FAZENDA DA FIGUEIRA
Em 20 de setembro de 1816, Andresito Artigas invade a Província pelo Passo de São Borja, mas foram heroicamente rechaçados pelos homens do Brigadeiro Joaquim de Oliveira Alvarez e Vasco Antunes Maciel. Em 1819, com mais de 2.000 homens, Andresito ataca novamente, desta vez por São Nicolau, sendo mais uma vez derrotado pelas forças do Coronel José de Abreu e enviado para o Rio de Janeiro onde acabou morrendo. José de Abreu contou com o auxilio do valoroso guerreiro Don José de Castelo Branco, o Conde da Figueira. O Conde Figueira, foi proprietário da Fazenda da Figueira, em Bossoroca, que foi vendida ao Coronel João Luiz Nascimento no início de 1809. O nome da fazenda está ligado ao titulo do Conde e não pelo fato de ali, existir uma grande árvore, uma figueira, como a maioria supõe.
PRIMEIROS POVOADORES
Segundo a história, os primeiros povoadores da região onde hoje, está localizado o município de Bossoroca, na época, Distrito do Camaquan, localizado entre os rios Icamaquan, Piratinin e Uruguai, foram: Manoel Elias Ferreira Antunes, João Manoel Xavier Pedroso, Constantino da Silva Brum, Antonio Lopes Pacheco, Manoel Ferreira Bica e José Fabricio da Silva.
AS VARIAS DENOMINAÇÕES DO RINCÃO DOS KERCH
Seus primeiros habitantes vieram de Viamão, entre os anos de 1830/40, e localizaram-se as margens do arroio divisa, hoje Jaguatirica, entre os limites da Fazenda União e a estância dos Fabrício, os quais já possuíam área de campos demarcada. Este lugar era denominado, no principio, de Rincão Feio, que também era conhecido como Rincão do Pesqueiro Grande. Logo, em razão do nome da família dos moradores, passou a ser denominado Rincão dos Ávila, e assim foi até o principio do século seguinte, quando então, passou a ser chamado Rincão dos Kerch, cuja denominação permanece até hoje.
O PRIMEIRO DOCUMENTO COM O NOME DE BOSSOROCA
Nos documentos oficiais que foram emitidos até a data de emancipação, sempre foi usado o nome do município mãe, São Luiz Gonzaga. Mas, pela primeira vez, ano de 1914, no dia 1º de julho, o nome de Bossoroca foi usado num documento oficial. No assento de óbito do menino Sebastião do Amaral, com apenas três meses de idade, sendo Oficial do Registro na época, o senhor João Luiz do Nascimento, consta como origem o 3º Distrito de São Luiz Gonzaga e, entre parênteses, o nome de Bossoroca. Este é um dos únicos documentos que se tem notícia, que usou o nome de nosso município, já que sempre foi mencionado o de São Luiz Gonzaga.
UM CANTAR PARA BOSSOROCA
Um dos lugares mais cantados pelo Rio Grande afora, sem dúvidas, é Bossoroca. Pelo seu atavismo, sua história e sua gente, é um nome constante e uma referência na poesia e na voz de poetas e cantores que sem conhecê-la, falam da Buena terra Missioneira. A simples menção de seu nome, dimensiona a grandeza e a importância, quando se fala em Rio Grande e região Missioneira. Um exemplo recente, ocorreu em Santo Ângelo em 2011, na realização do festival nativista "Canto Missioneiro", quando um trabalho que fala de outra cidade obtem o primeiro lugar e ainda, a musica mais popular do evento. Assim foi com "Fazendo Cerca", que conta a labuta dos antigos alambradores da velha Bossoroca. e por último, na 6ª edição do Manancial Missioneiro da Canção, interpretando Paisagens Missioneiras. Assista ao vídeo da apresentação:
Canto a Bossoroca (J. Velloso / Gaucho Pereira / Calico Ribeiro)
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